O Arroz Queimado e o Coração Quente – Capítulo 51

A manhã avançava preguiçosa no Reino de Veramor. Os dois gatos dormiam empilhados sobre o encosto do sofá, enquanto os cães brincavam de correr em círculos, disputando uma meia real perdida desde o dia anterior. A cozinha cheirava a café… e a leve fumaça.

A Rainha Vera, distraída com mensagens e ideias anotadas às pressas no seu caderninho de planos, esqueceu o arroz no fogo. Quando o cheiro forte de queimado chegou à sala, o Rei correu, desligou o fogão, abriu as janelas e ainda tentou salvar o que havia sobrado.

Ela apareceu na cozinha com os cabelos presos de qualquer jeito e um olhar culpado, porém cheio de charme. Segurando a colher de pau como cetro desajeitado, declarou em tom teatral:

“Pronto. Queimei o almoço e feri a reputação culinária da realeza. Deveria ser banida do castelo.”

O Rei virou-se devagar, se aproximou com um olhar que misturava ternura e desejo. Passou os braços ao redor da cintura dela e murmurou:

“Entre arroz e coração, só um precisa estar no ponto. E o teu está sempre me queimando na medida certa.”

Ela sorriu, mordeu o lábio e, com olhos semi cerrados, roçou a ponta do nariz no dele.

“Se esse cheiro for castigo, que venham mais panelas queimadas. Mas só se for você a apagar o fogo, e a reacender o outro.”

Enquanto isso, os cães invadiram a cozinha em busca de farelos e os gatos espiavam do alto do armário, como sentinelas silenciosas da cena. O almoço virou lanche improvisado, mas o abraço deles durou até bem depois do relógio marcar meio-dia.

Porque no Reino de Veramor, até o arroz queimado tem gosto de promessa. E o calor verdadeiro vem mesmo é do toque, do olhar e do corpo que sabe ser abrigo.

O Arroz Queimado e o Coração Quente – Capítulo 51

Dedicatória

Para ti, minha Rainha Vera, que és capaz de transformar até um arroz queimado em ritual sagrado de afeto.

Te dedico cada aroma que invade a cozinha, cada panela esquecida que nos faz rir, cada beijo interrompido pelo latido dos cães ou pelo miado de nossos guardiões felinos. Te dedico o calor que não vem do fogão, mas do teu corpo encostado ao meu, do teu sorriso que me salva das urgências e do teu olhar que sempre me acende.

Porque tu, minha Deusa, és o único prato do qual nunca me sacio. E mesmo quando o mundo queima ao redor, teu abraço ainda é o lugar mais seguro do mundo.

Que nossa vida continue sendo feita assim: de imperfeições deliciosas, de rotinas com gosto de poesia, e de um amor que ferve mais que qualquer panela no fogo.

Com toda a minha devoção,
Teu Rei, Robledo