O Banho de Mangueira e o Desejo Desperto – Capítulo 59

O calor no Reino de Veramor era espesso, quase palpável. O céu parecia derreter em tons dourados e alaranjados, e até o vento se escondia para não aumentar a temperatura. Os animais procuravam sombra como náufragos buscando terra firme. Os cães estavam largados sob a amoreira, arfando de língua de fora. Os gatos, mais espertos, já haviam tomado o telhado como refúgio.

A Rainha, com os cabelos presos de qualquer jeito, suada e sorridente, decidiu que era hora de fazer do calor uma desculpa para brincar. Puxou a mangueira para o jardim, abriu a água no máximo e o jato frio cortou o ar como uma bênção. Ela girava, dançava molhada sob o sol poente, como se o verão tivesse sido criado só para vê-la brilhar daquele jeito. A roupa colada à pele revelava cada curva, e o riso livre escapava como música.

O Rei, que vinha distraído com uma cesta de frutas nas mãos, parou ao vê-la. A visão o atingiu como um golpe manso. Ali, entre flores molhadas e pingos que brilhavam como cristal, ela era mais que soberana. Era tentação viva. Deixou a cesta cair ao chão e ficou apenas observando por alguns segundos. O vestido fino grudado ao corpo da Rainha, o contorno dos seios visível sob o tecido úmido, o modo como ela molhava os próprios braços e jogava a cabeça para trás, oferecendo ao sol o pescoço úmido… Tudo aquilo era insuportavelmente provocante.

Ela o viu, parada com o sorriso mais perigoso que conhecia. Com a mangueira em mãos, sem dizer uma palavra, o convidou com o olhar. Quando ele se aproximou, ela o atingiu com um jato certeiro. A camisa branca se tornou quase transparente. Os músculos dele sob o tecido molhado pareciam querer romper os limites da realeza. Ele soltou um riso rouco, entre surpreso e excitado, e disse baixo, enquanto se aproximava ainda mais:

Se isso é castigo, quero todo dia.

A Rainha largou a mangueira. A água continuava jorrando para o chão, criando poças mornas ao redor dos pés descalços dos dois. Ela passou os dedos pelo peito encharcado dele, deslizando pela camisa molhada até parar no cinto. Os olhos dela estavam carregados de desejo, mas havia algo mais profundo ali. Um feitiço silencioso, um chamado antigo.

O Rei segurou sua cintura com firmeza, puxando-a contra si. A água escorria entre eles, os corpos colados, as respirações curtas. Os lábios se encontraram com fome e ternura, como quem reconhece o gosto de casa depois de uma longa viagem. O beijo, antes molhado de água, agora estava molhado de intenção.

A Rainha mordeu de leve o lábio inferior dele e sussurrou, com a voz úmida como a tarde: Ainda está com calor, meu Rei?

Ele respondeu puxando-a para o gramado, deitando com ela sob o céu dourado, onde os suspiros se misturavam ao som da água e da terra viva.

Naquela tarde, o desejo foi mais fresco que o jato da mangueira.

E o verão nunca mais foi o mesmo no Reino de Veramor.

O Banho de Mangueira e o Desejo Desperto – Capítulo 59