O E-mail Não Respondido e o Olhar Rígido – Capítulo 62

Ela entra no quarto com os olhos firmes como uma sentença silenciosa. Segura o notebook contra o peito como se fosse um escudo. Ele a observa com a calma dos que sabem que o fogo vem, mas queimar também pode ser prazer.

Você leu o que te mandei?, ela pergunta, com uma voz que parece querer perfurar a pele e entrar direto na alma. Ele não responde de imediato. Levanta devagar da poltrona, caminha até ela e toca suavemente a borda do notebook, afastando-o com a mesma delicadeza com que se despem mágoas antigas.

Li teu olhar ontem à noite, ele sussurra, encostando o nariz no pescoço dela. E ele dizia mais do que qualquer palavra escrita. O corpo dela treme leve, mas os olhos ainda exigem respostas. Ainda assim, o silêncio é mais eloquente do que qualquer desculpa.

Ela afasta o rosto, apenas o suficiente para que seus olhos cruzem com os dele. Então deixa o cabelo escorrer por um dos ombros e diz que não é sobre o que estava escrito, mas sobre a espera. Você me leu com olhos de desejo, mas esqueceu de me responder com presença. Palavras ignoradas são como beijos recusados.

Ele a envolve pela cintura, puxando-a devagar para mais perto, como se estivesse moldando a saudade com as mãos. Me perdoa por esquecer o teclado, rainha. Mas foi porque tua boca me fez querer digitar em com beijos nela.

Ela morde o lábio inferior, entre o riso e a rendição. Ainda está brava, mas sua pele já diz o contrário. O castigo está na ponta dos dedos, ela avisa, com os olhos brilhando. E o perdão, talvez, esteja entre as páginas não lidas do meu corpo.

O notebook cai no sofá. Os olhos se tornam cartas abertas. O perdão se mistura com o desejo e, ali, entre palavras que nunca foram escritas e toques que dispensam qualquer pontuação, o rei aprende a nunca mais ignorar o que ela escreve — com os dedos, com os olhos, com o corpo inteiro.

O E-mail Não Respondido e o Olhar Rígido – Capítulo 62