✦ O Ronco Sincronizado e o Amor em Harmonia – Capítulo 64

A noite pousou sobre o Reino de Veramor como um véu bordado de estrelas preguiçosas. Lá dentro, sob as mantas macias do quarto real, o silêncio ia sendo preenchido com pequenas melodias da convivência. Luzia, a gata de olhos dourados, repousava aos pés da cama, aninhada como uma nuvem quente. Nilo, o gato de pelagem cinza e movimentos elegantes, ronronava em ritmo lento, como se acompanhasse uma valsa invisível. Lórien, o cão mais velho e protetor, respirava com profundidade no tapete felpudo ao lado da cabeceira. Já Bravus, inquieto mesmo no sono, soltava pequenos suspiros enquanto seus olhos fechados vibravam com os sonhos.

A Rainha se movia com graciosidade em meio ao emaranhado de lençóis e pernas. Ela esticava o braço com delicadeza, em busca do calor do corpo do Rei, e encontrava não só o calor… mas o som. O ronco. Um ronco generoso, vibrante, rítmico. Um verdadeiro trovão de amor.

Primeiro veio a irritação, como uma brisa gelada invadindo a madrugada. Ela suspirou, bufou, tentou virar de lado. Pensou em tapar os ouvidos com as mãos, com o travesseiro, com Nilo se fosse possível. Mas então veio o riso, como uma flor se abrindo no escuro. Aquele som, que no início parecia um tormento, de repente lhe pareceu uma canção. Ela riu baixinho, para não acordar Luzia, que já fazia pose de esfinge egípcia em pleno descanso real.

O Rei, mesmo em sono profundo, sentiu o toque da risada da Rainha como um carinho plantado nos seus sonhos. Ele se virou, murmurando algo indecifrável, mas doce, como quem beija o ar em busca do perfume da amada. A Rainha então se inclinou sobre ele e sussurrou no seu ouvido: “Até teu ronco me soa poesia, meu barulhento amor.”

Ela o abraçou com um gesto inteiro, colando seu corpo ao dele como se dissesse ao destino que aquele era o único lugar onde desejava dormir, viver e acordar. O ronco continuava. Agora mais baixo. Quase uma vibração. Quase um mantra de conforto.

Luzia e Nilo continuavam com seu concerto felino, ronronando em dupla sinfonia. Lórien se ajeitou e suspirou, como se aprovasse a cena. Bravus soltou um leve latido abafado, como quem sonha correndo atrás de estrelas.

A Rainha beijou o ombro do Rei e murmurou: “Você ronca como um trovão apaixonado que anuncia a tempestade que mora em mim.” Depois passou os dedos pelos cabelos dele e sussurrou como brisa de verão: “Meu Rei, mesmo em teus barulhos, você me silencia de amor.”

E ali, naquele quarto com animais em harmonia, amantes em doçura e roncos em sincronia, a madrugada dançou ao som mais belo que Veramor conhecia: o som do amor vivido em todas as suas formas, inclusive nas que ressoam como um tambor sagrado embalando sonhos.

O Ronco Sincronizado e o Amor em Harmonia – Capítulo 64