O Segredo da Rainha e os Olhos do Rei – Adendo

A tarde caía dourada sobre o Reino de Veramor. Dentro dos muros do castelo, o clima estava impregnado por uma brisa morna, um silêncio doce e olhares que se tocavam antes mesmo das mãos. No quarto principal, Luzia e Nilo dormiam empoleirados no peitoril da janela, dividindo um raio de sol como se fossem reis em miniatura. Lórien e Bravus, deitados próximos à cama, suspiravam em sincronia, atentos ao que os humanos viviam com o corpo e o olhar.

A Rainha se aproximou sem pressa, trajando uma camisola leve como suspiro. O tecido seguia as curvas do corpo como se soubesse que ali habitava um templo. Seus dedos tocaram o colar de couro que pendia no pescoço do Rei, e brincaram com o pingente, enquanto seus olhos dançavam nos olhos dele com malícia serena.

Você me olha como quem quer roubar um segredo, ela sussurrou com a boca quase colada à dele. Mal sabe que fui feita para ser descoberta.

O Rei sorriu lento, como quem saboreia uma taça de vinho antigo. Seus dedos roçaram a cintura da Rainha, puxando-a com firmeza e ternura, como quem segura uma oração. Então murmurou em seu ouvido: Cada curva tua é um mapa antigo, e cada vez que te toco, descubro um continente novo.

Ela arqueou uma sobrancelha, provocante, e mordeu de leve o lóbulo da orelha dele, fazendo-o estremecer. As mãos dele, agora firmes em sua cintura, deslizavam como rio em tempo de cheia, sem pressa de chegar ao mar. A Rainha, entre um riso e outro, soltou: Até teu desejo tem cheiro de poder, meu Rei. É como se tua vontade reinasse até no ar.

O Rei então a girou num movimento súbito e leve, como se dançassem sob uma música só deles. A luz do entardecer pintava a cena com tons de ouro e brasa. Ao fundo, Luzia espreguiçou-se e pulou para a cama, ronronando entre os dois, como se dissesse: “Eu também faço parte desse amor real.”

Nilo veio atrás, enciumado, deitou sobre o travesseiro do Rei e o fitou como quem exige lugar cativo no coração. Lórien ergueu a cabeça, abanou o rabo uma vez, e voltou a dormir. Bravus, sonhando com algum território imaginário, soltou um latido breve e virou de lado.

O Rei e a Rainha se entreolharam rindo da coreografia doméstica. Ainda assim, os olhos dele voltaram a mergulhar nos dela, agora com mais silêncio do que palavras.

Você tem cheiro de manhã que não acaba. De desejo acordado. De eternidade que cabe numa cama, ele disse, puxando-a para mais perto, até que seus corpos se alinharam como versos que rimam.

A Rainha fechou os olhos e deixou-se envolver, enquanto os gatos ronronavam em ritmo de embalo e os cães suspiravam aos pés da cama, como guardiões do amor que ali florescia, mesmo depois de tantas estações.

E então, entre beijos e risos, entre descobertas e segredos, entre roncos e suspiros, o Reino de Veramor dormiu mais uma vez em paz — sob o feitiço daquele amor que sabia ser tanto físico quanto sagrado.

O Segredo da Rainha e os Olhos do Rei – Adendo