A Discussão Sobre Onde Vai o Vaso

A tarde caía em tons dourados pelas janelas do castelo. Luzia se espreguiçava ao sol feito uma pequena rainha felina, enquanto Nilo saltava preguiçoso para o encosto da poltrona, curioso com a tensão suave que pairava entre o rei e a rainha. Lórien e Bravus cochilavam juntos ao pé do trono, sem se importar com as pequenas guerras cotidianas que moldavam os dias de Veramor.

A questão era simples. Ao menos parecia. Um vaso de cerâmica azul celeste, presente da irmã do rei, esperava por um lugar definitivo. Ele o queria no hall, perto da escadaria que dava boas-vindas aos que chegavam. Ela preferia na varanda, onde as flores seriam mais livres para sorrir ao sol e flertar com o vento.

O rei argumentava como quem planeja uma estratégia de batalha, mas sorria ao ver o brilho impaciente dos olhos da rainha. Ela, com aquela postura de seda e fogo, atravessava a sala com graça e certezas, como se já soubesse que venceria, ainda que não dissesse uma palavra.

Ela o olhou como quem vê um homem com o mundo nas mãos, mas que ainda assim se perde na beleza de um detalhe. E, com os lábios curvados de desejo manso, disse apenas que as flores precisam ver o céu para se lembrar da sua origem.

Ele a observou em silêncio, vencido não pelos argumentos, mas pela dança dos quadris enquanto ela caminhava até a varanda. O rei nunca soube resistir ao perfume da convicção que ela exalava.

Cedeu, é claro. Cedeu como o mar se curva à lua. Mas não sem antes encostar os lábios nos dela e fazer daquele gesto a assinatura de um tratado de paz. O beijo foi como terra molhada após um dia de sol escaldante. Uma cura. Um recomeço. Um laço.

O vaso, vaidoso, ganhou seu trono entre as samambaias e os jasmins. O hall ficou mais vazio, mas o amor, esse sim, seguiu no centro de tudo. Entre as rendas da cortina e o roçar sutil das patas de Luzia sobre o tapete, entre o bocejo ronronado de Nilo e o suspiro canino de Lórien e Bravus, havia silêncio. Mas era um silêncio cheio. De afeto. De escolhas. De vida.

E ali, entre a varanda e o hall, entre o ceder e o ser, entre um beijo e uma flor, o reino florescia.