A Foto Nova no Mural Real

A tarde cai com suavidade sobre o Reino enquanto a Rainha Vera segura uma moldura dourada entre as mãos. O Rei, ao lado dela, limpa o vidro com cuidado, como se preparasse um relicário. Os quatro súditos fiéis os rodeiam com olhares atentos. Luzia se espreguiça sobre a mesa, enroscando o corpo preguiçoso como se entendesse que aquele momento tinha algo de solene. Nilo, atento, observa a movimentação com olhos de curiosidade e afeto. Lórien late baixo, como se comentasse a cena. Bravus encosta o focinho nas pernas do rei, pedindo um afago.

A nova foto havia sido tirada dois dias antes, num momento espontâneo em que todos pareciam caber perfeitamente no instante. A Rainha com os cabelos ao vento, rindo de um comentário bobo. O Rei com aquele olhar que dizia tudo sem dizer nada. Luzia sobre os ombros dela, como uma coroa viva. Nilo deitado aos pés do casal, como se guardasse o chão. Lórien com a língua de fora, sorrindo com os olhos. Bravus entre os dois, bem no meio, com a postura de quem já sabe que é parte central daquele lar.

A moldura encontra seu lugar no mural da sala real, cercada por outras memórias, outras versões da mesma história. Mas essa foto tinha algo diferente. Algo que não cabia apenas na imagem. Era o cheiro de manhãs preguiçosas, era a música de um latido no meio do silêncio, era a dança das patas pelos corredores, era o ronronar que embala o fim da tarde.

O Rei aperta os olhos, ajeitando o quadro na parede com um cuidado quase cerimonial. A Rainha o observa de lado, com aquele sorriso de quem já decorou os gestos do outro. Quando ele termina, os dois ficam ali, de mãos dadas, olhando para a moldura, como se olhassem para dentro da própria casa.

Família é isso, diz ela em voz baixa, onde a bagunça tem amor e cheiro de ração no ar.

O Rei ri, com a alma inteira.

E Luzia miando, como se concordasse, salta para o colo da Rainha. Nilo se junta ao grupo, deitando aos pés deles. Lórien rosna baixinho para Bravus, que abana o rabo, e logo os dois se deitam também.

A nova foto no mural não é só uma imagem. É uma assinatura. Um registro de que o amor, quando é real, precisa de pouco: uma casa cheia de patas, corações desajeitados e um mural onde a memória se aconchega para sempre.