O Espelho do Banheiro e a Reflexão

A manhã ainda despertava preguiçosa no Reino de Veramor quando a Rainha Vera se aproximou do espelho do banheiro. A luz suave da janela iluminava seu rosto, revelando não apenas a beleza evidente, mas também os traços da vida, os pensamentos que pesavam em silêncio e as dúvidas que por vezes surgiam sem convite. Ela se olhou fixamente, como se buscasse respostas na própria imagem refletida, como se quisesse desvendar o que estava por trás dos olhos que o mundo via.

Nesse instante, o Rei entrou sem anunciar sua chegada. Não precisou de palavras para perceber o que se passava. Aproximou-se lentamente, envolveu a Rainha por trás e deixou que seus braços fossem abrigo e certeza. Seu olhar não buscava o reflexo, mas a verdade viva que estava diante dele. Murmurou com intensidade, enquanto roçava os lábios em sua nuca: O espelho mostra o que você é por fora. Eu vejo o que você é por dentro. E amo tudo.

Ela sorriu, ainda em silêncio, mas um sorriso que falava mais alto do que qualquer frase. O Rei a apertou um pouco mais contra si, deixando que o calor de seus corpos fosse linguagem suficiente para afastar qualquer dúvida. A Rainha, sedutora, ergueu os olhos novamente para o espelho, não para se analisar, mas para ver refletido o abraço em que estava. Ali, encontrou a resposta que procurava.

Luzia, a gata curiosa, entrou na sala como quem buscava testemunhar aquele momento íntimo. Subiu ao balcão e observou com seus olhos atentos. Nilo apareceu logo atrás, deitando-se preguiçoso no tapete, indiferente ao peso humano das reflexões. Do lado de fora, os cachorros Lórien e Bravus latiam suavemente, como se chamassem para a vida que corria além das paredes, lembrando que o amor se expandia para cada canto do Reino.

A Rainha virou-se lentamente, encarando o Rei sem espelhos, sem reflexos, apenas olhos nos olhos. Ele beijou sua boca com desejo e ternura, como quem sela uma promessa. Ela respondeu ao beijo com sedução, lembrando-o de que sua força e sua realeza nasciam dessa dança mútua entre o querer e o se entregar.

Naquele instante, o espelho deixou de ter importância. Nenhuma dúvida resistia ao toque, nenhum pensamento crítico sobrevivia ao riso que escapava entre um beijo e outro. E se havia reflexo que importava, era o reflexo da alma deles dois, projetado um no outro, eterno e incontestável.

No Reino de Veramor, até os espelhos sabiam que a maior verdade não estava no que refletiam, mas no que se sentia.