O Roubo Doce

A Rainha olhou disfarçadamente para a travessa, onde restava a última fatia de bolo. O Rei, concentrado em seus pensamentos, mal percebeu quando ela, com um gesto ágil e travesso, tomou posse do pedaço proibido. Levou-o à boca com lentidão quase cerimonial, deixando o sabor do chocolate misturar-se ao brilho divertido dos olhos dela.

O Rei apenas a observava, fascinado pela ousadia e pela graça que habitavam cada movimento. Quando ela lambeu o dedo, como quem saboreia um segredo, inclinou-se e sussurrou com um sorriso que incendiava o ar:
“Majestade, eu só sigo regras que me excitam.”

Ele não respondeu, apenas sorriu em rendição, certo de que nenhuma lei, por mais justa que fosse, poderia governar a arte viva daquele amor. Luzia, deitada sobre o balcão, observava com indiferença felina, enquanto Ícaro soltava um som curioso, como se risse do pecado doce que acabara de testemunhar.

E assim, entre o aroma do bolo e o perfume da pele dela, o Rei entendeu que alguns roubos não merecem castigo, merecem gratidão.