A Tarde de Chuva e Chá

A chuva caía em silêncio sobre os jardins de Veramor, como se o céu respirasse devagar para não perturbar a serenidade da tarde. Cada gota que tocava as folhas do hibisco ou deslizava pelo vidro das janelas parecia trazer uma lembrança antiga, um murmúrio da terra que agradecia o descanso. O Rei e a Rainha estavam sentados lado a lado, com as mãos entrelaçadas sobre a mesa de chá, observando o mundo ser lavado pela ternura da água.

O vapor subia das xícaras em espirais suaves, misturando-se ao perfume leve das flores que a chuva deixava mais vivas. O chá tinha o sabor da calma e da permanência, e o calor que emanava dele era o mesmo que vinha dos olhos um do outro. Nada precisava ser dito. O silêncio era suficiente, e dentro dele cabia todo o amor que já haviam construído.

Ícaro, curioso e inquieto, batia as asas diante da janela, tentando capturar as gotas que escorriam pelo vidro. Seu reflexo parecia brincar com ele, e às vezes o pequeno pássaro piava de leve, como se risse da própria tentativa. Perto da lareira, Lórien dormia em paz, o corpo enroscado e o peito subindo num ritmo lento, como se o fogo que crepitava lhe contasse histórias.

Nilo, deitado sobre o tapete, soltava um ronronar preguiçoso que parecia acompanhar a melodia da chuva. O som suave do céu encontrava o som do lar, e tudo se tornava uma canção sem palavras.

O Rei serviu mais chá para a Rainha, e ao fazê-lo, seus dedos tocaram os dela, num gesto simples e eterno. Foi nesse instante que ela percebeu que as maiores promessas não se fazem em voz alta, mas nos pequenos gestos que sustentam a vida. Ele a olhou com ternura e ela sorriu com a alma inteira, como quem reconhece no outro a casa onde deseja permanecer para sempre.

A tarde seguiu sem pressa. Do lado de fora, o mundo era chuva e frescor. Do lado de dentro, era calor e amor. E em Veramor, enquanto o tempo se rendia ao sossego, o chá continuava quente, a lareira viva, e o amor, paciente e infinito, se derramava em silêncio.