A Flor no Cabelo

O jardim do castelo estava em silêncio, exceto pelo murmúrio leve do vento entre as folhas e o canto distante das aves que se recolhiam ao cair da tarde. O Rei caminhava entre os canteiros, tocando com os dedos cada flor como se pedisse licença à terra antes de escolher aquela que levaria até sua Rainha. Havia ali tantas cores e perfumes, o branco das magnólias, o vermelho profundo das rosas, o dourado das dálias, mas nenhuma parecia digna o bastante até que seus olhos pousaram sobre uma flor simples, de um azul delicado, discreta, mas encantadora.

Com o cuidado de quem segura um segredo, o Rei a colheu e caminhou até onde ela estava. A Rainha observava o horizonte, e seus cabelos, soltos e livres, dançavam ao ritmo da brisa. Ele se aproximou em silêncio, e quando ela se virou, seus olhares se encontraram como dois rios que se reconhecem no mesmo destino. O Rei então ergueu a mão e, num gesto lento e terno, prendeu a flor entre os fios dourados.

O toque foi leve, mas cheio de significados. A Rainha sorriu aquele sorriso que fazia o tempo hesitar e o mundo se curvar em admiração. A flor, agora em seus cabelos, parecia ganhar vida, como se o próprio jardim a tivesse escolhido para ser testemunha daquele amor.

Ela fechou os olhos por um instante e sentiu o perfume da flor misturar-se ao calor do sol e à presença dele. Era como se o universo inteiro tivesse se comprimido naquele gesto, transformando a simplicidade em sagrado. O Rei a observava em silêncio, encantado com a naturalidade com que ela tornava tudo divino apenas por existir.

Lórien, o velho guardião do jardim, assistia de longe. Sentado à sombra de uma árvore antiga, suspirou com a serenidade de quem entende a linguagem da alma. Sabia que há gestos que o tempo não apaga, porque nascem do amor verdadeiro — aquele que não precisa de palavras, apenas de presença.

Quando o Rei tocou os cabelos da Rainha pela última vez antes de se afastar, a flor brilhou por um instante, como se a natureza inteira a coroasse. E naquele instante, ele soube que nenhuma joia poderia igualar-se à beleza de vê-la assim, com uma simples flor e toda a majestade da eternidade em seu sorriso.

Qualquer flor que te toca se torna rainha por um segundo, mas tu és rainha para sempre.